quarta-feira, 17 de outubro de 2007

SÍNTESE DO TEXTO - Por que inserir os meios de comunicação na educação? Len Masterman

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
MESTRADO EM EDUCAÇÃO - TECNOLOGIA DIGITAL
DISCIPLINA – MÍDIA E EDUCAÇÃO
PROFESSOR – ROBERTO APARICI
ALUNO – Francisco Sueudo Rodrigues

TEMA - Por que inserir os meios de comunicação na educação?

INTRODUÇÃO


O presente artigo foi escrito com base nas idéias arroladas no texto Por que? do autor Len Masterman do livro o ensino dos meios de comunicação (Ediciones de La Torre, Madrid, 1993, página 15 a 32). Vale salientar que a editora autorizou a reprodução do capítulo, cujas idéias deram origem a este artigo.
A forma metodológica como foi construído o presente artigo deu-se partindo sempre de uma síntese das idéias do autor com um breve comentário das mesmas, sempre procurando relacioná-las com as experiências existentes aqui no Brasil, ora conhecidas por todos, quer pela própria veiculação da informação na mídia ou mesmo vivenciadas no cotidiano de nossas escolas.
Para melhor nos orientar em relação a estrutura do texto, decidi conservar os subtemas e caminhar através de sua delimitação criada pelo próprio autor.
Quanto à temática central do texto que busca questionar criticamente o por que de ensinar a mídia em nossa educação, o autor coloca diante mão que existem os que defendem de forma tais ensinamentos e os que são acéticos, dentro de uma linha de pensamento também convincente. Segundo os escritos apresentados por Masterman, as respostas a essa pergunta que intitula o texto: Por que? Devem ser dadas com a evolução e desenrolar dos meios para manter a relevância, orientação e impulso da prática docente.
Os sistemas de comunicação e o fluxo de informação são elementos cada vez mais vitais em todos os níveis sócio-econômicos e a educação tem de estar aberta a isso. Esta é uma área que atinge a todos.
Para aderir à educação áudio-visual temos de reconhecer que somos aprendizes diante da riqueza e variedade das teorias existentes na área. Para isso não basta ter um olhar superficial da inserção das mídias em nosso meio, mas sim encará-la dentro de uma complexidade de uso que investiga o que, como e porque usar uma mídia para uma determinada situação específica.
As tendências e orientações favoráveis ou contrárias ao uso das mídias na educação exigem consciência crítica e autonomia no desenvolvimento de programas educativos.

DISCUSSÃO DAS TEMÁTICAS

1 - Uma saturação dos meios
Consumimos muito a programação veiculada através dos meios de comunicação, haja vista que a mesma está integrada ao nosso cotidiano. Ex. Ouvir rádio ao ir para o trabalho, etc
Esta atitude de repetição do produto veiculado pelas mídias audivisuais em nosso cotidiano não podemos considerar como sendo desprovida de um objetivo maior, pois o efeito que a mesma tenta produzir é de consumo através de sua incansável repetição. Há também uma reflexão a respeito do referido mecanismo de repetição que busca com sutileza um efeito subliminar na aceitação do conteúdo da mensagens que estão sendo veiculados, ou seja, a informação fica armazenada em nosso subconsciente e passamos a aceitar as marcas e os produtos sem muita estranheza no ato de consumir. Assim aceitamos tudo que a mídia pré-julga como sendo de “boa” qualidade. Eis o nosso senso crítico em perceber que nem tudo que está na mídia é de boa qualidade, como nem tudo que estar fora dela se define como um produto desvalorizado.

2 - A influência dos meios
Podemos considerar como sendo uma visão errônea de utilização dos meios como facilitadores na venda de produtos. Existem técnicas responsáveis para produzir um tipo de consciência em relação os produtos.
Os britânicos acham fundamental que a filosofia dos meios seja imparcial e objetiva, e tente refletir o mundo como ele é na realidade.
Existe uma polêmica dos que encara os meios audiovisuais como prática significativa de um sistema simbólico que é preciso ler de maneira ativa e encarar como grandes provedores de experiências não problematizadoras.
O autor defende uma educação audiovisual exatamente por achar que os meios convertem as coisas em mitos e com essa atitude praticar abusos ideológicos.
Para o autor o exemplo vivido pelas Malvinas confirma a necessidade de desenvolver uma compreensão crítica dos meios tanto na escola como em todos os níveis sociais. A educação segundo a UNESCO deve tomar as decisões de forma democrática, fomentando a tolerância, a amizade e a cooperação na busca da melhor compreensão para conceber a educação audiovisual.
A respeito das influências dos meios audivisuais que todos sofremos, uma postura mais coerente frente às constantes mensagens estimuladoras ao consumo será a de constantemente estarmos quebrando os mitos e fazendo surgir uma nova realidade através de exemplos que contraponham os milagres demonstrados pelas experiências. Para ilustrar como é grande a influência que sofremos dos meios em nossa vida diária, nenhum de nós vai ao supermercado e compra um produto totalmente desconhecido que não tenha sido divulgado pela mídia. Esse é um exemplo simples que serve para medir o quanto somos manipulados e por não dizer totalmente dominados pelas influências midiáticas.
É possível iniciar uma educação libertária em nossas escolas em contraposição a essa profunda alienação a que somos submetidos cotidianamente em nossa realidade?

3 - A fabricação e manipulação da informação
Muitas informações que interessam ao público saber são omitidas. Temos que traçar uma linha de separação entre educação pública, a indústria da comunicação e as relações externas para melhor entender o cenário a que estamos submetidos.
A educação audiovisual deverá ser uma resposta crítica a toda essa fabricação e manipulação da informação, posto que o material produzido pelo departamento de relações externas produzem notícias e reportagem da realidade em proporção muito grande.
Temos que aprender a utilizar eficazmente os meios. Qualquer curso de educação audiovisual deveria fomentar a interação dos alunos com os meios tanto local quanto nacional.
Uma sugestão é proporcionar informações na escola sobre situações de êxito e não somente de fracasso como normalmente acontece. Um exemplo claro é que os alunos se destacam quando têm problemas de comportamento ou quando os periódicos divulgam uma matéria crítica sobre a escola.
Para os contestadores de uso dos meios, os mesmos poderiam ser usados de forma construtiva e contrariar o predomínio dos governos e grandes empresas.
A maior desigualdade está entre os provedores e consumidores da educação. Para que o jogo da comunicação tenha êxito, necessita da ignorância do público para dela se nutrir.
A educação audiovisual representa uma das poucas esperanças que a sociedade tem de clarear as duplicidades dos flagrantes da indústria da comunicação, que busca aumentar sua audiência de forma acética. Tal educação audiovisual deverá esclarecer as regras de manipulação dos meios, pois a mesma representa um dos poucos instrumentos, que alunos e professores podem usar para enfrentar a desigualdade do conhecimento e do poder que existe por parte dos que fabricam a informação para os que inocentemente consumem como diversão.
O fato é de que quem produz a informação não está nenhum pouco interessado sobre o que verdadeiramente pensam os que a consumem, mas sim aumentar o seu ranking de consumo frente aos produtos criados para serem vendidos em grandes escalas visando, nem que para isso tenham de usar técnicas manipulativas e persuasivas. O alto consumo é o indicador de que tudo está indo bem, pois o que interessa mesmo é exclusivamente o lucro.

4 - Educação audiovisual e democracia
É urgente uma educação audiovisual, pois os meios estão penetrados na essência do processo democrático. A educação audiovisual é importante para conhecer o exercício do direito democrático e possamos combater os grandes excessos de manipulação dos meios com finalidades políticas. Sua marcha para a verdadeira democracia participativa é a democratização das instituições. A alfabetização audiovisual é importante para todos os cidadãos se quisermos que eles exerçam poder e tomada de decisões.
É inegável que quem governa, coloca a serviço da máquina administrativa os meios audiovisuais a fim de manipular as informações que lhes interessam no processo de dominação das massas. Consciente da democracia e seu uso devido, evitaremos que hajam abusos do direito democrático por parte dos governantes e interessados em manipular a opinião pública na legitimação de seus poderes e representação.
Não é possível pensar uma democracia sem educação audiovisual que permita ao cidadão refletir para um discernimento de fato quem estar representando seu direitos ou pseudo-representados através dos meios radiofônicos ou televisivos. Sem essa educação não há visão crítica da realidade.

5 - A importância crescente da comunicação e informação visual
A escola necessita estudar criticamente o uso de materiais áudios-visuais. Atualmente usamos muito a escrita na escola e quem não a domina, fracassa. E quanto aos materiais impressos às vezes são inadequados e quase sempre são acompanhados de imagem. É preciso os alunos examinarem criticamente essas imagens.
O desenvolvimento da educação audiovisual na escola terá que vir como aula especializada ou inserida no currículo como elemento junto a alfabetização para o ensinamento dos matérias.
Só existem dois caminhos em relação a educação audiovisual que deverá ser praticada na escola: um deles é encarar a escola enquanto espaço de reprodução das relações sociais, o qual precisa trabalhar seus indivíduos para compreender como a mídia poderá exercer tarefa manipulativa no uso das imagens favoráveis a manutenção do poder e status quo ou simplesmente ignorar a função social da escola enquanto propiciadora de reflexão crítica sobre a utilização dos meios.

6 - Educar para o futuro
Desde 1963, houve uma sensibilização quanto a importância de desenvolver programas educacionais audiovisuais na escola. A partir de então toda uma geração de alunos passou por aulas sobre como os meios audiovisuais constroem seus significados.
O que foi produzido pelos meios no campo cultural e político tem tido pouca repercussão na escola nos últimos 20 anos. Podemos ver que existe uma defasagem com as práticas docentes existentes na escola.
Temos que avançar e não retroceder no desenvolvimento de atitudes e habilidades que todo mundo necessita para orientar nossas práticas educacionais.
Em outras realidades escolares produzimos alunos ascéticos quantos aos meios e que os consideram como sendo os mesmos toda a fonte do mal. É preciso encarar de forma mais realista os meios audiovisuais para não atribuir-lhe a responsabilidade da trama do gênio maléfico pelo insucesso dos acontecimentos. Todo extremo é perigoso, pois não podemos atribuir aos meios todas as mazelas ocorridas, pois sabemos que tudo decorre de um conjunto de ações interligadas e que os meios podem até ter uma parcela de culpa mas não devem ser totalmente responsabilizados pelo insucesso dos fatos ou circunstâncias.
Educar para o futuro nessas circunstâncias é pensar as mídias nem como necessárias ou dispensáveis, mas como integradora dos processos sócio-educativos,fazendo parte das atuais condições de gerenciamento das informações.

7 - A crescente privatização da informação
Numa sociedade pós industrial da informação não se pode considerar adequada uma educação que não trate de resolver as implicações que tem os avanços das tecnologias e da comunicação, privatizando as informações e tornando os serviços comerciais aos invés de comunitários.
Muitos professores são indiferentes aos sistemas corporativos internacionais que ameaçam o futuro sistema das informações públicas e por não dizer o próprio sitema educativo. A nova ordem diz que informação deve estar livre e a disposição de quem necessitar, com acesso aberto e disponibilidade geral e ser distribuída em centros educativos com benefício para o público.
A educação tem uma grande quantidade de gasto público para pagar professores e por isso estar a ponto de ser privatizada, a não ser que os professores demonstrem uma maneira convincente de que sua tarefa não consiste apenas em transmitir informações, mas para além dessa veiculação das informações o mesmo seja criativo ao incorporar os meios às suas práticas pedagógicas.
Os professores podem desempenhar um papel importante para formar uma consciência pública capaz de articular as pessoas para reivindicarem o uso da informação. Podem também motivar seus alunos a discutirem e emitirem um juízo crítico de valor sobre o uso da informação. Assim, não poderemos imaginar que o professor nesse cenário seja dispensável em detrimento do uso dos meios, se o mesmo assumir um papel de gestor e mediador da informação.
O autor estar convencido sobre a importância de uso dos meios audiovisuais e o desenvolvimento de práticas educacionais satisfatórias bem como o apoio dado por muitos, embora outros consideram tais práticas como algo fragmentado, heterogêneo e sem relevância.
Um questionamento final do autor: Podemos estudar e ensinar os meios de maneira sistemática com coerência conceitual como outras disciplinas já estruturadas?

CONCLUSÃO

Para quebrar muitos mitos que permeiam nossa visão da realidade frente aos usos dos meios audiovisuais é necessário uma profunda desconstrução do que até aqui foi instalado e cristalizado em nossas consciências como modelo a ser seguido de forma acrítica. Ao analisar minuciosamente uma imagem televisiva, por exemplo, encontramos dimensões mais profundas do que nossa vã consciência possa imaginar. De posse das informações que credibilizam a exploração de nossa olhar, vem a intencionalidade em apresentar detalhes nos elementos dispostos no campo figurativo da imagem, visualizados na posição ideal dos elementos destacados propositalmente para seduzir para o uso e consumo das formas pré-fabricadas e enlatadas. Várias concepções são embutidas ao dispormos as imagens sobre um plano, pois vão desde à concepções gestaltistas até outros níveis psicoanalíticos e complexos de se analisar.
Dentro de um campo de forças que nos intui ao incentivo tanto em produzir quanto consumir a melhor imagem, assumindo dimensões mais estéticas em detrimento de outras mais humanas e intuitivas, de maior confortabilidade e proximidade com o que se apresenta como original ao nosso estilo de vida e labirinto mental, próprio de elaboração dos nossos pensamentos e significados, é que percebemos não ser tão fácil educar nossa mente e nosso olhar para perceber além do que nos é mostrado através dos meios audiovisuais.
Podemos concluir que devemos nos esforçar para atingir um processo de alfabetização das imagens, num movimento de autoria e co-autoria dos objetos apreendidos por nossos sentidos, objetivando uma aprendizagem significativa e em permanente interlocução dos sujeitos em busca dos significados mais profundos para nossa existência humana na construção de uma educação libertária e emancipatória.
Enfim, para atingirmos a plenitude de uma educação dos meios audiovisuais, necessitamos exercer continuamente nosso senso crítico na percepção aguçada da realidade que nos cerca, perscrutando-lhe o objetivo mais profundo do real significado das mídias que nos convidam a assumir o verdadeiro papel de educadores críticos-reflexivos frente ao mundo das imagens e estímulos sonoros atualmente caracterizado como frenesi das informações.

Nenhum comentário: